Inovação sem risco é fantasia, risco sem governança é caos

Por Luciano Schifino – Chief Sales & Marketing Officer na CashU. Participei recentemente do Secure Finance | Inovação e Desafios 2026, no Cubo Itaú, em um debate com profissionais de...

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Imagem: CashU

Por Luciano Schifino – Chief Sales & Marketing Officer na CashU. 

Participei recentemente do Secure Finance | Inovação e Desafios 2026, no Cubo Itaú, em um debate com profissionais de referência: Homero Valiatti (CTO e sócio Itaú Unibanco) e Gabriel Barbabela (CPO da Verrif no Brasil).

O painel trouxe uma questão que hoje é inevitável: como conciliar a velocidade exponencial da Inteligência Artificial com a necessidade de segurança, rastreabilidade e governança nas decisões financeiras?

A sensação que ficou é clara: estamos diante de um ponto de inflexão.

Já não discutimos apenas proteção de dados ou prevenção de fraudes. Estamos revisitando a própria arquitetura de risco do mercado financeiro B2B, em um momento em que a IA redefine parâmetros de decisão, auditoria e supervisão.

Neste artigo, compartilho a tese central que apresentei no palco e os aprendizados que surgiram dessa discussão sobre o futuro da segurança financeira.

Risco como matéria-prima da inovação

Por muitos anos, o mercado financeiro e a indústria trataram o risco como uma anomalia que deveria ser eliminada. Diante da incerteza, a reação instintiva sempre foi restringir, adiar ou negar crédito.

Esse movimento, comum em um país que convive com incertezas jurídicas, operacionais e de fraude, limita a expansão de mercados, fragiliza cadeias produtivas e impede que empresas menores tenham acesso ao capital essencial para sua operação e crescimento.

No painel, defendi uma perspectiva mais ampla. Quando apoiado por tecnologia, dados granulares e modelos sólidos de governança, o risco deixa de ser um inimigo e passa a ser combustível para inovação, eficiência e inclusão financeira.

Mesmo considerando riscos jurídicos e de fraude, o volume de informações já disponível permite identificar padrões, antecipar problemas e descobrir oportunidades que antes ficavam escondidas. É nesse ponto que a gestão inteligente de risco deixa de ser defensiva e passa a ser estratégica.

O contexto brasileiro reforça esse ponto diariamente. Somos um dos países com juros reais mais altos do mundo, o que exige análises que considerem variáveis macroeconômicas, setoriais, comportamentais e transacionais, e não apenas o histórico estático do cliente.

O último ranking anual de juros reais da MoneYou, divulgado em novembro, confirmou isso novamente: o Brasil registrou a segunda maior taxa real do planeta, atrás apenas da Turquia. Veja no gráfico abaixo:

25 maiores taxas de juros reais do mundo em novembro

Fonte: MoneYou/Lev Intelligence
Fonte: MoneYou/Lev Intelligence

Essa realidade evidencia a dimensão da oportunidade. Em mercados assimétricos, modelos avançados de risco não apenas protegem instituições, mas destravam produtividade, consumo e acesso ao capital.

PMEs e a cauda longa do B2B

Grande parte dessa oportunidade está nas pequenas e médias empresas que compõem a cauda longa do B2B. Muitas delas são subavaliadas por modelos tradicionais de crédito que não conseguem capturar adequadamente seu potencial e seu comportamento financeiro.

Ao aplicar Inteligência Artificial e dados do Open Finance para analisar milhares de variáveis não convencionais, desde padrões de compra até movimentações transacionais em tempo real, não eliminamos o risco.

O que fazemos é precificá-lo corretamente. Isso habilita práticas como o pricing baseado em risco, permitindo transformar um “não” em um “sim viável”, com segurança e alinhamento ao perfil de cada cliente.

É essa a abordagem que a CashU adota: tratar o risco como insumo estratégico para criação de produtos e abertura de novos mercados, e não como barreira de entrada.

Auditoria algorítmica como novo fundamento da confiança

Um dos pontos mais importantes do painel foi a discussão sobre a opacidade dos modelos de IA. A confiança automática em algoritmos ficou para trás. Estamos entrando na era da auditoria algorítmica, na qual decisões precisam ser explicáveis, rastreáveis, auditáveis e compatíveis com normas regulatórias.

Defendi o conceito de “Governance by Design”. Governança, segurança e explicabilidade não podem ser inseridas depois do desenvolvimento. Esses elementos precisam estar embutidos na própria lógica do produto.

Os principais riscos emergentes reforçam essa necessidade: vieses estatísticos herdados de dados históricos; modelos que não oferecem clareza sobre os motivos de uma decisão; e dependência excessiva de APIs e bases externas, que pode gerar vulnerabilidades operacionais.

A conclusão é simples. Cresce de forma sustentável quem consegue medir e explicar. Transparência já não é apenas uma exigência regulatória. É um diferencial competitivo.

Redesenhando o sistema financeiro com mentalidade de “Day One”

Quando fomos provocados a imaginar como seria o sistema financeiro caso fosse redesenhado hoje, um consenso emergiu. O Sistema Financeiro Brasileiro (SFB) é uma referência mundial em inovação e inclusão, destacando-se pelo seu equilíbrio entre robustez regulatória e espaço também para inovação.

E para onde ele deveria  seguir? Ele seria mais rápido, modular e muito menos concentrado. Sistemas legados de liquidação em vários dias seriam substituídos por liquidação instantânea, reduzindo drasticamente o risco operacional.

Além disso, o risco deixaria de ficar acumulado nos balanços das grandes instituições ou na indústria. Ele poderia ser redistribuído, fatiado e securitizado com transparência, permitindo uma alocação de capital mais eficiente e uma economia mais resiliente.

Menos concentração significa menor risco sistêmico e maior capacidade de absorver choques sem comprometer cadeias inteiras.

Isso cria um ecossistema mais resiliente:

  • menos contágio sistêmico,
  • menor dependência de poucos players,
  • maior eficiência na alocação de capital.

Onde a CashU se encaixa nessa equação

Participar do Secure Finance reforçou minha convicção de que estamos seguindo o caminho adequado.

Na CashU, utilizamos IA não apenas para eficiência operacional, mas para expansão segura do crédito na cadeia B2B. Ao assumir o risco de inadimplência da indústria por meio de modelos preditivos e governança algorítmica rigorosa, transformamos dados opacos em decisões claras, auditáveis e escaláveis.

O futuro discutido no Cubo Itaú não é teórico. Ele já está em execução, dentro dos algoritmos que avaliam milhares de variáveis para cada operação de crédito realizada hoje.

Mensagem final

Se quisermos um mercado B2B mais forte, precisamos deixar de tratar o risco como um inimigo invisível e passar a tratá-lo como um ativo mensurável, inteligível e precificável. A tecnologia necessária já existe.

A pergunta agora é estratégica: sua empresa vai usar Inteligência Artificial apenas para se proteger do passado ou para crescer no futuro?

 

Luciano Schifino é sócio e Chief Sales & Marketing Officer na CashU. Especialista em estratégias de crescimento B2B e inovação financeira, lidera a expansão da CashU no mercado de crédito inteligente.

 

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